Quem sou eu?

Como o leitor já deve ter percebido, chamo-me Amílcar Monteiro e sou um escritor português de humor e ficção. Se por algum motivo precisar de saber mais sobre mim, pode ler a minha biografia ou consultar a minha biografia alternativa, que é muito mais interessante.

Biografia

Amílcar Monteiro é escritor de humor e ficção. Licenciou-se em Psicologia e especializou-se em Neuropsicologia Clínica, trabalhando há vários anos com pessoas com demência. Tem várias formações em escrita criativa e humorística, storytelling, copywriting e comunicação digital. É co-fundador do grupo de humor Aristocratas, no âmbito do qual escreveu crónicas, fez stand-up comedy e escreveu e representou em sketches televisivos. Para além disso já escreveu contos, curtas-metragens e peças de teatro.

Em 2016 publicou o seu primeiro livro, Não se Brinca com Coisas Sérias, uma selecção de crónicas humorísticas e oneliners (piadas curtas) escritas ao longo de sete anos. Em 2020 lançou Um Belo Dia para Morrer e Outras Histórias, um livro de contos satíricos que misturam humor e tragédia.

Encontra-se agora a arquitectar novos ataques literários e criativos, em diferentes formatos, para cumprir aquele que é o seu grande objectivo: dominar o mundo através da imaginação e do humor. ■

Biografia Alternativa

No dia 5 de Junho de 1980 nasce, em Lisboa, Stanislav José Bartocelli Vasiliev, o verdadeiro nome de Amílcar Monteiro. Filho de um diplomata russo a viver nessa cidade, e de uma pintora e escultora luso-italiana, o pequeno Stanislav é o mais novo de quatro irmãos. A sua infância é feliz e ele revela-se um prodígio: com apenas três anos aprende, sozinho, a ler e a escrever. Desenvolve desde logo uma paixão pelos livros, sendo que aos nove anos a sua lista de leitura já contava com clássicos como a Ilíada, O Mestre e a Margarida, A Montanha Mágica e Ulisses, o livro que mais tarde o motivaria a mudar-se para a Irlanda.

Aos 11 anos, a sua vida sofre um brusco e trágico ponto de viragem: no dia de aniversário do seu irmão mais velho, Nikolai, a família decide celebrar a data com um passeio de balão. No entanto, Stanislav é forçado a ficar em casa com a ama, uma vez que se encontrava a recuperar de escarlatina. Infelizmente, o balão sofre um acidente e despenha-se, vitimizando toda a sua família próxima.

Stanislav fica então ao cuidado do seu único familiar vivo, o tio Amílcar Bartocelli («Il Picollo Bartocelli»), um palhaço quinquagenário e amargurado, com quem desenvolve uma relação de amor-ódio. Por um lado, é Amílcar que o introduz ao mundo da comédia e do humor, mostrando-lhe as várias técnicas humorísticas e apresentando-o a grandes nomes como Chaplin, Keaton, os irmãos Marx, Woody Allen, Danny Kaye ou Monty Python. Mas, por outro lado, Amílcar nunca desejara a responsabilidade de ter filhos, e a presença de Stanislav foi altamente disruptiva para a sua vida pessoal e profissional, o que o fazia ter acessos de fúria durante os quais batia no sobrinho com balões em forma de espada e animais.

É nesse ambiente que Stanislav vive até atingir a maioridade, altura em que decide rumar a Dublin para estudar Jornalismo e escapar dos comportamentos abusivos do tio. Para pagar o curso, trabalha em restaurantes, bares e clubes nocturnos, e é num desses locais que conhece aquela que seria uma das pessoas mais determinantes da sua vida: Laura Monteiro, uma bailarina portuguesa a estudar dança irlandesa na Royal Irish Academy of Dance. Rapidamente se apaixonam e ela torna-se na primeira pessoa a quem Stanislav tem coragem de mostrar os seus contos humorísticos. Laura fica deslumbrada e pressiona-o entusiasticamente a tentar publicá-los. Depois de umas quantas recusas, consegue-o finalmente em Março de 2000, na famosa revista satírica The Dublin Desert.

Este é um período de grande felicidade na vida de Stanislav: termina o curso com distinção e arranja de imediato emprego na secção cultural do The Irish Times; escreve e publica os seus contos com alguma frequência; Laura consegue integrar a mais conceituada companhia de sapateado irlandês; os dois alugam um pequeno apartamento e vão viver juntos; Stanislav pede Laura em casamento e ela aceita.

Mas é então que a tragédia se abate novamente sobre Stanislav: durante a lua-de-mel no Japão, desejando explorar ao máximo o exotismo local, Laura decide provar Fugu, uma espécie venenosa de peixe-balão que tem de ser cuidadosamente preparada para evitar o envenenamento fatal de quem a ingere. Infelizmente, o seu peixe é preparado por um jovem aprendiz, cuja falta de experiência custa a vida a Laura.

Devastado pela morte da mulher, e como forma de homenagear a sua memória, no dia do seu enterro Stanislav jura nunca mais escrever humor. Refugia-se do sofrimento no álcool, começando a beber todos os dias, o que afecta seriamente a qualidade do seu trabalho. Após um ultimato do seu editor, e sentindo que nada mais tinha a perder na sua vida, Stanislav pede-lhe uma última oportunidade, solicitando que seja enviado como repórter para cobrir a Guerra do Iraque. O director acede e ele parte para a guerra, onde se torna num repórter demasiado intrépido – entre colegas, fica conhecido como «Suicide Stan» –, o que lhe valeria múltiplos ferimentos, incluindo o projéctil que lhe perfurou o olho esquerdo e o forçou a usar aquilo se tornaria a sua imagem de marca: uma pala de cabedal escarlate.

Permanece no Iraque durante quatro anos, até ao dia em que é informado que o seu tio Amílcar se encontra hospitalizado, vítima de doença prolongada. Stanislav parte de imediato para Lisboa e reencontra o tio, 10 anos depois de o ter visto pela última vez, agora numa cama de hospital, entubado e sem nenhuma das roupas largas e maquilhagem exagerada que o tornavam «Il Piccolo Bartocelli». Estão juntos durante poucas horas e, no seu leito de morte, Amílcar Bartocelli pede desculpa ao sobrinho e confessa-lhe que seguiu todo o seu trabalho nos jornais e revistas, e que se orgulha especialmente dos contos de humor. Como último desejo, pede-lhe que volte a escrever humor, pedido esse que Stanislav não consegue recusar.

Depois do funeral regressa a Dublin, onde é atormentado pelo conflito interno gerado entre aquilo que prometeu ao tio e o juramento que fez no dia em que enterrou Laura. Cada vez mais torturado, recorre novamente ao álcool e, depois de várias discussões com o editor, é despedido do jornal. A partir daí entra numa fase de decadência, vivendo quase só de noite, bebendo a toda a hora e frequentando bares e bordéis onde se envolve em rixas frequentes, chegando mesmo a passar alguns dias na prisão por espancar violentamente um homem que o chamara «palhaço».

É salvo dessa espiral auto-destrutiva por Flynn Finnegan, um antigo colega de curso, na altura editor na Leprechaun Publishing. Cruzam-se num bar por acaso, falam durante algumas horas, e Flynn rapidamente se apercebe do problema do seu velho amigo. A custo, consegue convencer Stanislav a procurar ajuda numa clínica de reabilitação para alcoólicos, pagando o tratamento do próprio bolso. É nessa clínica que ele conhece aquela que viria a ser a sua segunda mulher: Tsetsiliya Volkanova, uma violoncelista russa oriunda de uma família abastada. Enquanto recuperam em conjunto, apaixonam-se e, junto a Tsetsiliya, Stanislav reaprende o gosto pela vida.

Após sair da clínica, Finnegan, que se recordava dos textos de Stanislav na The Dublin Desert, desafia-o a escrever um livro e a tentar publicá-lo pela Leprechaun. Sentindo-se revigorado e em dívida para com o amigo, ele quer aceitar o convite, mas sente ainda que se escrevesse estaria a trair a memória de Laura. Depois de partilhar o seu dilema com Flynn, este apresenta-lhe a solução: escrever sob pseudónimo – dessa forma poderia cumprir a promessa que fez ao tio, ao mesmo tempo que manteria o seu juramento, pois seria como se se tratasse de outra pessoa a escrever. E é então que Stanislav faz nascer Amílcar Monteiro: «Amílcar» para homenagear o seu tio, a pessoa que lhe mostrou o humor e a dor; «Monteiro» para celebrar Laura, a pessoa que lhe mostrou o amor e o incentivou a escrever.

Em apenas quatro meses escreve a sua obra de estreia e aquela pela qual ainda hoje é mais conhecido: Uma Vida Insuflável. Publicado em 2012 e inspirado em acontecimentos da sua vida, o livro é um conjunto de contos tragicómicos centrados em balões, nas suas mais diversas formas e feitios, mostrando como cada um deles pode, ao mesmo tempo, ser um objecto de alegria e de tragédia: o prazer de uma família que passeia num balão de ar quente, e o terror quando o balão começa a cair; o medo e adrenalina de um casal momentos antes de provar um peixe-balão, e o seu prazer e alívio ao comê-lo e ver que tudo correu bem; a alegria de uma menina que recebe um balão, e a sua tristeza e impotência quando larga balão e o vê partir para o céu; entre outras histórias poderosas e marcantes.

O livro é aclamado pela crítica e um sucesso comercial sem precedentes, garantindo a Amílcar Monteiro imediata consagração internacional. A partir daí nunca mais parou, escrevendo contos, novelas, romances, poemas e peças de teatro, publicando um total de 24 obras no espaço de apenas 11 anos – sempre pela Leprechaun Publishing –, das quais se destacam: a célebre paródia O Guerra e o Pais; a colecção de poemas Somos Sonhos de Carne e Água; A Dança dos Átomos, um livro sobre os horrores da guerra, inteiramente escrito na perspectiva da bomba atómica que atingiu Hiroshima, desde a concepção até ao impulso final da sua onda de destruição; e, claro, aquela que é considerada a primeira multidistopia, Os Oceanos de Teseu, um romance no qual todos os dias o protagonista acorda num cenário distópico diferente (uma reflexão sobre a manutenção da identidade e o seu papel na construção da sociedade).

Torna-se milionário sem nunca perder a integridade artística, e são-lhe atribuídos vários galardões, do humor à ficção científica, do terror ao policial, do conto ao romance, da poesia ao teatro, mas o autor recusa-os a todos, incluindo dois Prémios Nobel de Literatura. Explica o motivo da recusa numa das raras entrevistas concedidas, com uma tirada que ficou célebre entre artistas de todos os géneros: «O artista existe e produz aquilo que tem de produzir. Ao que ele produz chama-se arte. E essa arte não deve ser criticada ou premiada, deve apenas existir. Tudo o resto são tretas».

A 31 de Outubro de 2023, durante umas férias em Portugal, no seu monte alentejano, Stanislav morre de forma prematura e inesperada. Nessa tarde, quando celebrava com Tsetsiliya, Flynn Finnegan e alguns familiares e amigos o aniversário dos filhos gémeos, sofre um ataque cardíaco fulminante provocado pelo rebentamento de um balão.

Stanislav Vasiliev pode ter desaparecido aos 43 anos, mas Amílcar Monteiro viverá para sempre através da sua obra inovadora e multifacetada, com uma voz inimitável que, misturando relevância social, humor acutilante e uma profunda compreensão da complexidade humana, continuará certamente a encantar e inspirar futuras gerações. ■