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Ilustração: João Tinoco

No decorrer desta crise pandémica, temos visto manifestações de tantos tipos diferentes de imbecis, que se torna complicado discernir qual deles somos nós. Ora para ajudar o leitor a identificar que tipo de imbecil é, criei um breve questionário com sete perguntas. O processo é simples: basta ler cada uma delas, seleccionar a alínea com que mais se identifica e anotar a resposta. No final do questionário, encontrará um guia de classificação de resultados que lhe indicará qual o seu tipo, mediante as respostas que deu. Fácil, não é?

Preparado para descobrir que tipo de imbecil pandémico é?
Então vamos a isto!

1. Quando começou a ouvir falar de um vírus que contaminava milhares de chineses, qual foi a sua reacção?  

a)  Oh, isso é um mito, não se passa nada. É só mais uma gripe, mas como os chineses são mais que as mães, contaminam-se logo uns aos outros. Todos os anos há gripes destas e depois nunca acontece nada.

b)  Pronto, está a acontecer… Isto já andava a ameaçar nos últimos anos e agora é de vez. É desta que um vírus se espalha pelo mundo inteiro e mata grande parte da população. Claro que tinha de começar na China, que eles são todos porcos. Eu cá se vir um chinês, atravesso logo a rua, porque provavelmente eles já estão todos contaminados.

c)  Não me surpreende, pá. Aquilo foi um ataque dos Estados Unidos, mas há dúvidas? A China estava a crescer demais e a ameaçar a economia dos gajos e eles soltaram lá o vírus para lixar aquilo tudo.

d)  Vi no Facebook que aquilo começou porque um chinês fornicou um macaco. Porque lá é habitual os gajos fornicarem com macacos e cães e outros animais.

e)  Muita força, China, neste momento difícil. Esta foto sou eu na grande muralha da China, em 2018.

f)  Porra, aquilo na China está complicado… Parece mais grave que os surtos de gripe dos anos anteriores. Espero que consigam controlar a situação depressa.

2. O que decidiu fazer quando soube que o Novo Coronavírus se tinha alastrado pela Itália e pela Coreia do Sul?

a)  Desliguei a televisão, que os gajos só dão notícias de desgraças, e fui ter com o meu pessoal. O que é que me interessa saber de uma doença que afecta meia dúzia de gatos pingados de outros países? Arranjem uma vida.

b)  Fui ao supermercado abastecer-me de toneladas de enlatados, água e papel higiénico – bens essenciais para sobreviver ao apocalipse. E avisei todos os meus familiares, amigos próximos e colegas de que o fim estava próximo e que também eles deveriam precaver-se.

c)  Expliquei a toda a gente que aquilo era uma manobra de diversão dos Estados Unidos para parecer que era um vírus real e não um ataque dirigido à China. Só não vê quem não quer.

d)  Partilhei todos os artigos que vi nas redes sociais que diziam que aquilo era uma gripe normal, ou  que só contaminava povos mais sujos, que comem com as mãos, como os chineses, os italianos e os árabes.

e)  Propus que o orgão de comunicação em que trabalho fizesse manchetes sensacionalistas para atrair espectadores/leitores. Algo como: «Chegou o vírus chinês assassino que vai infectar o mundo inteiro! A nossa vida nunca mais será a mesma!».

f)  Segui o desenvolvimento da situação com mais atenção, embora não lhe dando demasiado valor e continuando a fazer a minha rotina.

3. Quando apareceram as primeiras notícias de que o papel higiénico e as máscaras estavam a voar das lojas e farmácias, em Portugal, qual foi a sua atitude?

a)  Gozar com os otários medricas que ainda acreditam nas notícias e borram a cueca por tudo e por nada. Aliás, se calhar por isso é que precisam de papel higiénico para 6 meses! Ah! Ah! Ah! Grandas bonecos!

b)  Comprar ainda mais papel higiénico! E máscaras, para que ninguém me contamine a mim ou à minha família! A partir de agora, só tiro a máscara quando me for deitar! E álcool etílico, e gel desinfectante, e todos os medicamentos! E avisar toda a gente para comprar também!

c)  Elucidar a minha rede de amigos e conhecidos que aquilo é tudo inventado pelos supermercados para o pessoal ir lá todo gastar rios de dinheiro. Que eles combinam entre eles uma história, neste caso aproveitando o vírus, e depois pagam à comunicação para espalhar essa história. Abram os olhos, pá.

d)  Partilhar nas minhas redes sociais fotografias de pessoas a lutar por papel higiénico e notícias que referiam que a comida estava a esgotar e que já havia canis a matar cãezinhos para os vender como carne de porco.

e)   Aumentar exponencialmente o preço das máscaras e do álcool. Lei da procura e da oferta, meus amigos. É assim que se faz dinheiro.

f)   Ficar preocupado por estas notícias poderem gerar uma onda de pessoas a comprar papel e outros produtos, e tentar antecipar a hipotética escassez, comprando um pouco mais do que os bens habituais que costumo comprar, pelo sim, pelo não.

4. Quando o SARS-CoV-2 se espalhou por vários países da Europa, incluindo Espanha, o que disse aos seus amigos?

a)  Epá, calma, relaxem! Qualquer coisinha e fica logo tudo paranóico! Eu ando com esta tosse há uma semana e não é por isso que acho que vou morrer. Vão mas é beber uma jola! Deviam era estar preocupados com a corrupção na política e no futebol, isso é que deviam.

b)  O vírus já cá está! A grande maioria das pessoas já deve estar contaminada! Não saiam de casa! Não trabalhem! Não se toquem nunca mais! Não me interessa se precisam de ir ajudar alguém, se têm de trabalhar para sobreviver, ou se precisam de tocar numa pessoa para tratar dela! Não podem fazê-lo e pronto! E vou insultar-vos se não o fizerem!

c)  O óbvio: que isto foi tudo orquestrado pelos russos para desestabilizar a economia chinesa e europeia. Porque é que acham que não há casos lá? Ah, pois… E escrevam o que eu vos digo: a seguir o vírus vai para os Estados Unidos. E depois disto passar, a Rússia vai dominar o mundo, é só uma questão de tempo.

d)  Que uma colega minha me disse que só os idosos é que apanham o vírus e que a única forma de não o apanharem era lavar as mãos com vinagre de vinho branco.

e)   Que a minha terapia alternativa à base de ervas, óleos essenciais, cristais energéticos ou alinhamento dos chakras, ou que qualquer outro serviço do género, em que trabalho ou acredito, aumentava a imunidade e protegia do vírus, sem dispor de qualquer evidência científica que validasse essa afirmação.

f)   Que baseado na informação de artigos de organizações de saúde, estava preocupado com a situação e que achava que seria uma questão de dias até serem identificados casos em Portugal, pelo que o melhor era irem abastecer-se de alguns bens essenciais e reduzirem os contactos sociais e as deslocações, especialmente as internacionais.

5. O que fiz quando apareceram casos de COVID-19 em Portugal e as autoridades recomendaram o isolamento social, levando várias empresas e instituições a cancelarem os seus serviços?

a)  Peguei no meu pessoal e fui para a praia apanhar sol e dar mergulhos, que o calor e o mar curam tudo. À noite fomos todos beber copos, antes que o governo se lembre de mandar fechar isto tudo. Foi giro, deu para descontrair desta conversa exagerada que se ouve por todo o lado, e ainda nos rimos bastante porque andámos todos a tossir uns para cima dos outros, a fingir que estávamos infectados. Ah! Ah! Ah!

b)  Partilhei nas redes sociais, de manhã à noite, todos os artigos que encontrei que demonstrassem que este é o vírus mais letal de sempre, que 90% da população mundial vai ser contaminada, que os alimentos vão acabar, que o sistema de saúde não tem capacidade para lidar com a situação, que a maior parte das pessoas vai morrer. Tinha de fazer perceber a todos os meus conhecidos que o mundo vai acabar!

c)  Partilhei tudo o que era artigo que expusesse o que se passava, a tentativa dos governos europeus em responsabilizarem este vírus pela crise económica que estava prestes a acontecer. A aproveitarem-se disto para disfarçar o facto de andarem a roubar ao povo! Querem atirar-nos areia para os olhos, mas a mim não me enganam, que eu não nasci ontem. Acham que é por acaso que o vírus mata mais os velhos? É para salvar a Segurança Social!

d)  Partilhei toda e qualquer informação que encontrei sobre o vírus, sem nunca avaliar a credibilidade das fontes. Isso incluiu textos, posts, imagens e vídeos que explicavam que o vírus morria quando exposto a uma temperatura de 26º , que se desintegrava quando inalamos água quente, que comer raiz de gengibre ralado protegia o organismo, que gargarejar com água morna ou salgada matava o vírus nas amígdalas, que o Ronaldo converteu os seus hotéis em unidades hospitalares, entre muitos outros disparates.

e)  Partilhei e redigi artigos que criticavam a forma como a ideologia política oposta à minha se estava a aproveitar da situação. Para além disso, enchi vários carrinhos de supermercado para, quando tudo escassear, eu vender os bens por um preço muito mais elevado.

f)  Iniciei um isolamento voluntário e partilhei artigos relevantes de fontes credíveis como a DGS, OMS, ordens profissionais ou jornais de referência, tentando informar todos sobre a gravidade da situação, mas sem exagerar, para não gerar mais pânico desnecessário. Paralelamente, fui partilhando piadas, imagens e vídeos para desanuviar, tentando utilizar o humor para tirar um pouco de carga à situação.

6. Que medidas tomou quando a Organização Mundial de Saúde declarou a situação de pandemia, no dia 11 de Março de 2020?

a)  Lá tive que ir à farmácia e ao supermercado, que a patroa não parava de me chatear, a dizer que daqui a pouco já não havia nada, porque anda tudo histérico. Fui, mas não levei máscara nem luvas, que nunca usei essas mariquices e continuo aqui rijo. Tossi para todo lado e mexi em vários produtos porque, mesmo com o mundo nesta situação, é preciso escolher bem o que compramos, para não sermos papados. Se tiver que apanhar alguma coisa, apanho e pronto. Eu tive na tropa, pá, não é um vírus chinoca qualquer que me mete medo.

b)  Fui ao supermercado outra vez, mas agora para além das luvas e máscara, levei também um saco na cabeça e um plástico a cobrir-me o corpo. Depois levantei o máximo de dinheiro que consegui e fugi para o interior do país. Fiz e assinei múltiplas petições online a exigir as medidas mais restritivas possíveis, incluindo fechar farmácias e supermercados, exército na rua a punir toda a gente que encontrasse e aumento de 500%  dos profissionais de saúde! Emergência nacional já!

c)  Dirigi-me até ao supermercado para comprar umas quantas coisas. Mas não fui à farmácia, que eu sei que isso é o que eles querem. Só quem anda a dormir é que não percebe que este vírus foi criado e espalhado pela indústria farmacêutica, pelos principais laboratórios, para disparar a procura de medicamentos. E é mais que evidente que eles já têm a vacina, estão só a espera que mais gente seja contaminada para a vender a peso de ouro.

d)  Enviei aos meus contactos do Whatsapp todos os clips de áudio que recebi, nos quais pessoas que diziam ser médicos e enfermeiros, ou pessoas que referiam conhecer médicos e enfermeiros, davam informação privilegiada sobre o quão mal estava a situação e revelavam a quantidade de mortes que o governo anda a esconder do povo.

e)  Continuei com o meu negócio, que envolve viagens internacionais, a operar como se nada fosse, não deixando os trabalhadores ir para casa, porque enquanto os totós dos meus concorrentes directos encerram como medida profiláctica, eu cá cada vez faço mais dinheiro. É assim que se ultrapassam os competidores e se constrói um império. Aprendam.

f)  Partilhei artigos relevantes, de fontes fidedignas, sobre o que esperar e como lidar com o isolamento social, e quais os procedimentos oficiais para evitar a propagação do vírus. Partilhei ideias de actividades e links para as pessoas se entreterem e distraírem durante este período conturbado e ansiogénico. Tentei perceber a melhor forma de utilizar os meus talentos e as minhas competências para ajudar a sociedade e aqueles que me rodeiam.

7. Quando o Presidente da República decretou o estado de emergência em Portugal, que comportamentos adoptou?

a)  Apesar de continuar a achar que isto é tudo uma histeria, comecei a lavar as mãos depois de ir à casa-de-banho e a sair de casa só para beber a bica, comprar o jornal, meter o euromilhões, ir ao barbeiro, passear, ir lavar o carro, e outras coisas essenciais. E como não estamos a trabalhar, combinei com dois amigos irmos beber imperiais à bomba de gasolina, todos os dias, para desanuviar um bocado. Não vou ficar fechado em casa o dia todo, não é?

b)  Disseminei gráficos que demonstram que o pico ainda não chegou, que os casos vão aumentar exponencialmente, que a situação cá vai ser pior que em Itália, que já há novas estirpes do vírus. Redigi post atrás de post a alertar que os médicos vão deixar morrer todos os idosos, que a economia vai colapsar, que o isolamento social vai aumentar os casos de divórcios e de violência doméstica, que depois disto passar, todos os preços e impostos aumentarão no mínimo 50%! O pior ainda está para vir! Vamos todos morrer de forma horrível!

c)  Informei os mais tapadinhos que o vírus foi criado na China como forma de controlo populacional, e que depois disso espalharam-no pelo resto dos países para afundar a economia mundial e saírem fortalecidos. E que, a qualquer momento, deviam esperar o anúncio de uma vacina criada pelos chineses, porque eles já a têm desde o início disto tudo.

d)  Telefonei a vários amigos e colegas a informar que me disseram que agora o exército vai controlar o país, que se a polícia vos apanhar na rua tem o direito de vos espancar, que só podemos sair para ir buscar comida e que o melhor é apanhar o vírus o quanto antes, porque assim depois de 15 dias ficamos imunes, e aí já nos deixam sair e andar à vontade.

e)  Coloquei no Instagram diversas fotografias minhas na herdade onde estou a fazer o isolamento, nas quais aparecia a exibir o corpo, a fingir que estava a ler ou a fazer festas ao meus gatos, fotografias essas acompanhadas de mensagens em que manifestava que estava muito aborrecido, que todos iríamos ultrapassar isto com amor e boas vibrações, e pedindo para que comentassem as minhas fotos com os emojis de um coração e uma ambulância como forma de apoio aos profissionais de saúde. Não me esqueci de adicionar todos os hashtags solidários que encontrei.

f)  Permaneci em isolamento, saindo apenas para ir trabalhar, comprar alimentos ou medicamentos, e tentei prestar apoio aos meus familiares e vizinhos mais vulneráveis. Mostrei-me disponível para falar com pessoas, caso sentissem necessidade, e tentei esclarecer os menos informados sobre as medidas do governo e das autoridades de saúde. Evitei publicar artigos que, em tempos de grande incerteza, aumentassem ainda mais o medo e ansiedade das pessoas. Tentei ler apenas artigos suficientes para me manter informado e não mais do que isso, mantive as minhas rotinas possíveis e descontraí vendo séries, ouvindo concertos, fazendo exercício, organizando a casa e encetando em actividades artísticas. Isto pode demorar, mas há-de passar.

Resultados

E já está! Anotou bem as suas respostas? Óptimo! Chegou a altura de conhecer que tipo de imbecil pandémico é.

Se a maior parte das suas respostas foi a alínea A:

Você é um Imbecil Negligente. É o tipo de imbecil que menospreza todo e qualquer aviso, porque acha sempre que é um durão a quem não acontece nada e que todos os outros são estúpidos, medricas e fracos. As regras de segurança e prevenção sanitária durante um surto pandémico não são para si, você é uma alma livre e iluminada e a si ninguém lhe diz o que fazer. Você é um dos principais responsáveis pela propagação do vírus porque, ao não respeitar precauções ou medidas de segurança, provavelmente contraiu o vírus e espalhou-o por diversos sítios públicos, contaminando muita gente.

Eu sei o que vai dizer: «Como é que contraí o vírus se me sinto bem?». Aí está mais uma bela característica sua: para além de negligente, é um ignorante preguiçoso que não faz o mínimo esforço para se informar devidamente sobre uma doença que está a matar milhares de pessoas em todo o mundo. E quando alguém sensato tenta chamar a atenção para o perigo dessa doença, você ridiculariza-o, tirando a autoridade do que ele diz e fazendo com que todos os outros ignorem um aviso que pode salvar muitas vidas.

Se a maior parte das suas respostas foi a alínea B:

Você é um Imbecil Histérico. É uma pessoa paranóide e alarmista, que desde o primeiro segundo espalhou medo e ansiedade por todos aqueles com quem contactou. É o tipo de imbecil responsável pela corrida desnecessária aos supermercados e farmácias – que impediu idosos e outros em situação mais frágil de comprar o que precisavam – e, pior do que isso, responsável pela corrida às luvas e máscaras, levando à sua escassez e inacessibilidade para os que realmente dela precisam: os profissionais de saúde e cuidadores que lidam com pessoas contaminadas.

Adora exigir as medidas mais restritivas e rigorosas possíveis sem pensar, por um momento que seja, nas suas consequências a médio e longo prazo, pois não tem a capacidade para perceber que o tipo de problema que agora enfrentamos é novo e altamente complexo, com diversas variáveis que devem ser tidas em consideração. A sua histeria e ignorância leva-o a ter comportamentos xenófobos e inconsequentes, plantando o pânico diário em pessoas que já estão com bastante medo do presente e do futuro, não compreendendo que mais depressa esse pânico é responsável pelo colapso do sistema de saúde e da economia, do que o vírus em si.

Se a maior parte das suas respostas foi a alínea C:

Você é um Imbecil da Conspiração. Apesar de pouco ou nada saber do funcionamento do mundo, gosta de dar a aparência que percebe bem mais do que as outras pessoas, para se enaltecer mostrando que todos os outros são ignorantes, pois essa é a única forma que tem de se afirmar. Alimenta-se de toda e qualquer teoria da conspiração que encontra, sem fazer o mínimo esforço para analisar a sua veracidade ou sequer possibilidade, conseguindo mesmo defender várias teorias contraditórias em simultâneo.

Em tempos normais, o seu comportamento já pode ser perigoso, pois algumas pessoas mais crédulas poderão acreditar no que está a dizer e, graças a isso, adoptar comportamentos extremistas, mas neste momento de crise torna-se ainda mais nocivo, porque pode conduzir não só a atitudes extremistas de ódio racional e xenofobia, mas também a menosprezo de uma situação grave, não adopção das práticas preventivas recomendadas e desinformação.

Claro que poderei estar a ser injusto e não ser nada nisto, podendo dar-se o caso de você apenas sofrer de uma perturbação psiquiátrica com ideação paranóide, e se assim for deverá procurar ajuda especializada. Em qualquer dos casos, creio que o melhor será abster-se de qualquer comentário sobre o vírus. Ou sobre qualquer outro assunto.

Se a maior parte das suas respostas foi a alínea D:

Você é um Imbecil da Desinformação. Na maior parte das vezes, você até é uma pessoa bem intencionada. Quer apenas difundir a informação que lhe chega pelos seus amigos e conhecidos, com a finalidade de os esclarecer e ajudar. Outras vezes, o seu objectivo é menos nobre, focando-se mais em espalhar a informação para mostrar aos outros que tem conhecimento privilegiado e/ou que é uma pessoa muito informada. Em ambas as situações, o problema é o mesmo: você tem uma lacuna no seu pensamento crítico, o que o leva a não questionar nenhuma da informação que vê nas redes sociais ou que ouve na rua.

Em vez de tentar perceber primeiro a credibilidade das notícias que lhe aparecem, analisando a sua origem e autoridade – e já agora, lendo-as na íntegra – e partilhando-as apenas se a sua provável veracidade for elevada, você opta por partilhá-las automaticamente, sem pensar. O que pode parecer inocente à primeira vista, torna-se altamente perigoso porque inicia uma campanha de desinformação junto de uma população desesperada por perceber o que se passa, tendo muitas vezes efeitos contrários ao recomendado pelas autoridades de saúde (por exemplo, divulgando falsos sintomas e remédios, informações falsas que intensificam o pânico, ou teorias da conspiração que alimentam o ódio) e facilitando a vida a burlões e charlatães que se aproveitam dos mais fragilizados.

Se a maior parte das suas respostas foi a alínea E:

Você é um Imbecil Aproveitador. Ao contrário dos tipos anteriores de imbecil, quase todos eles movidos  pela ignorância, o seu tipo move-se única e exclusivamente pelo egoísmo. No meio da maior crise mundial dos nossos tempos, em que milhares de pessoas já morreram e outras quantas correm esse risco, o seu pensamento centra-se no lucro pessoal, em como aproveitar uma tragédia para se beneficiar a si mesmo. Seja pelo lucro económico, mantendo negócios abertos com alto risco de contaminação para os empregados, aumentando o preço de bens essenciais, adquirindo bens para os vender mais caros, fazendo capas e manchetes alarmistas para atrair visualizações ou burlando através de apps, rastreios ou peditórios falsos e da promoção de serviços que protegem ou curam o vírus sem qualquer prova válida; seja pelo egocentrismo e necessidade de atenção de que um narcísico como você se alimenta, chamando a atenção para o quão sensível e preocupado é, e não deixando ninguém esquecer-se do quão definido é o seu corpo; seja pelo aproveitamento político que a situação lhe pode trazer, criticando as decisões dos seus adversários e colocando-o a si e aos seus numa posição privilegiada de obter o poder no futuro.

Independente da sua motivação egoísta e autocentrada, quero dar-lhe os parabéns: você é a mais desprezível e nojenta escumalha que existe no nosso planeta. Acha que é mais espertinho do que os outros, mas não percebe que o que você faz é a atitude mais primitiva e fácil de tomar. Qualquer um se consegue transformar numa abutre sem princípios, valores ou moral, que só pensa em si próprio. Difícil é manter-nos íntegros e solidários em situações de crise. Sempre que sentir que o mundo é um lugar injusto e agressivo, lembre-se que é você a causa disso.

Se a maior parte das suas respostas foi a alínea F:

Lamento desiludi-lo, leitor, mas você não é um imbecil. É apenas uma pessoa ponderada e sensata, que compreende a seriedade da situação e tenta chamar a atenção para isso espalhando informação relevante, de fontes fidedignas, com o intuito de ajudar outros a ficar tão informados quanto você. No entanto, tem também noção que a situação é nova e difícil, e que as medidas a tomar são muito complexas, pelo que devem ser bastante ponderadas, preferindo não criticar o governo e as autoridades de saúde neste momento, pois sabe que agora o mais importante é apoiar as instituições para ultrapassarmos esta perigosa e urgente ameaça. Haverá bastante tempo para as críticas depois disso.

Da mesma forma, tem perfeita consciência que partilhar diariamente notícias negativas com pendor fatalista e apocalíptico não ajuda ninguém, muito pelo contrário, acentua o medo e a ansiedade em pessoas que já se encontram em pânico, podendo desencadear descompensações psicológicas, roubos e violência. Prefere agir de forma moderada, seguindo as recomendações das autoridades e tentando ajudar aqueles que o rodeiam, seja comprando bens para quem é mais vulnerável, usando as suas competências para desenvolver respostas necessárias ou contribuir para o entretenimento e relaxamento, ou simplesmente manter as pessoas informadas com dados úteis do funcionamento quotidiano actual.

Claro que você não é perfeito e é capaz de ter sido um pouco imbecil no início: primeiro poderá ter menosprezado um pouco a situação, depois talvez tenha entrado em pânico e comprado um pouco mais de itens do que devia – essas três paletes de papel higiénico não enganam ninguém –, talvez tenha referido alguma teoria da conspiração e, quem sabe, partilhou um ou outro artigo que afinal não era muito fidedigno. Mas foi aprendendo e tendo cuidado para corrigir esses comportamentos e, acima de tudo, não utilizou uma crise para se aproveitar de ninguém. Mas mantenha-se atento, leitor, que numa situação destas qualquer um de nós pode, num determinado momento, resvalar para o histerismo, negligência, conspiração ou desinformação. Continue a ser o equilíbrio entre a gravidade e a esperança.

Ou então não é nada uma pessoa ponderada e sensata, mas sim um dos imbecis referidos anteriormente, só que respondeu sempre à alínea F porque percebeu logo como isto funcionava  (o que também não é difícil, convenhamos). Se for esse o caso, enquanto se enganava a si próprio para viciar o resultado do questionário, talvez tenha aprendido alguma coisa sobre civismo e sensatez. ■

[Nota: muitas das alíneas apresentadas não são inventadas, foram lidas e recolhidas por essas redes sociais fora.]

2 comments

  1. Tenho que admitir que, pelo menos numa coisa, sou imbecil…
    Então existia um Amilcar Monteiro e eu desconhecia?
    Olha o tempo de vida que apliquei tão mal…

    Forte abraço e obrigado! Valeu a pena!

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